Na
resenha de hoje, falarei sobre o livro Escuridão Total sem Estrelas, do Stephen
King.
“Na ausência de luz, o mundo assume
formas sombrias, distorcidas, tenebrosas. Os crimes parecem inevitáveis; as
punições, insuportáveis; as cumplicidades, misteriosas. Os personagens destes
quatro contos passam por momentos de escuridão total, quando não existe nada —
bom senso, piedade, justiça ou estrelas — para guiá-los. Suas histórias
representam o modo como lidamos com o mundo e como o mundo lida conosco. São
narrativas fortes e, cada uma a seu modo, profundamente chocantes.” — Sinopse
oficial.
O
livro é composto por quatro contos. Então vou dividir essa resenha em quatro
partes. Já aviso desde já que essa resenha deve ser maior que as de costume.
1922
O
primeiro conto é sobre um fazendeiro que matou sua esposa em 1922, ele escreve
um documento, 8 anos depois, relatando tudo o que aconteceu.
O
conto já se inicia contando como era a situação do fazendeiro Wilfred: ele
tinha uma fazenda com 80 acres de terra, uma esposa e um filho. Sua esposa,
Arlette, tinha 100 acres de terra deixados pelo seu pai em um testamento. Eles
discutem fervorosamente sobre isso. Ela queria vender todas as terras a um
matadouro de porcos e sua mudar para a cidade, ele, ficar com todas as terras e
continuar no campo.
Depois
de muito pensar, Wilfred influencia seu filho adolescente Henry a ajuda-lo numa
missão que não haverá volta — matar Arlette e a jogar em um poço velho que há
na fazenda. E o fazem, aproveitando de uma noite que a mulher bebeu vinho de
mais. Depois disso, Wilfred fica continuamente alucinando com a voz e imagens da
sua mulher morta, lhe perturbando.
O
documento que o fazendeiro escreve relata como que sua esposa vai se
deteriorando com os dias antes que ele feche o poço — ratos comendo sua pele e
sua carne, sua mandíbula quebrada sorrindo para ele. Também é descrito as
histórias que ele e seu filho inventam para ninguém desconfiar de nada que está
acontecendo, tentando desviar a atenção de advogados da empresa que queria
comprar as terras, do xerife e de possíveis interessados no sumiço de Arlette.
“Mais cedo ou mais tarde,
até mesmo o mais sólido dos caixões acaba se rompendo e deixando a vida entrar
para se alimentar da morte.”
Já
achei interessante o fato de que o conto é narrado em primeira pessoa — já que
é uma carta-documento — e que o personagem dialoga com o leitor do documento.
A
história se intercala, de maneira suave, com o que está acontecendo em 1922 e
alguns sentimentos e acontecimentos do fazendeiro entre 1922 e 1930. Isso pode
me aproximar mais do Wilfred do presente, que está em um quarto de hotel
escrevendo tudo isso, do que o Wilfred do passado que vive na fazenda.
“No fim, somos todos
pegos por nossas próprias armadilhas.”
O que
achei bem interessante foi deixar bem claro o sentimento de avareza do
fazendeiro, como ele pensa e cita o dinheiro em várias ocasiões. É fácil e
interessante perceber como Wilfred fica cada vez mais louco e alucinando,
imaginando coisas. Mais uma vez, Stephen King me surpreende com sua habilidade
de recriar cenas com tantos detalhes que me faz parecer que estou vendo um
filme.
Duas
palavras podem descrever bem este conto: ganância e insanidade.
Gigante do Volante
Este
é o segundo conto do livro. Uma escritora de mistérios policiais é estuprada e
busca vingança.
Saindo
do tema rural do início do século XX, vamos para uma época mais conhecida
nossa, um local urbano no século XXI.
Tess
é uma autora que fazia várias palestras em sua região. Era uma mulher normal,
com seus 30 e poucos anos, que vivia com seu gato, gostava de escrever e amava
dirigir. Num dia qualquer, ela recebeu um convite para palestrar em uma cidade
vizinha. Ela concorda em ir e logo parte para o local.
Antes
de voltar, a mulher que lhe convidou a alerta sobre o caminho: “a estrada pela
qual você veio é muito perigosa, então vou te mostrar um atalho”. Tess, que
adora atalhos, segue as orientações que lhe foram passadas em seu GPS. Porém,
no caminho de volta, ela sofre um pequeno imprevisto quando o pneu de seu carro
é furado por uma tábua de madeira com pregos deixados no meio da estrada. Ela
fica aliviada quando alguém que a vê e vai ajudá-la. Mas o que ela não esperava
era que essa pessoa a deixaria inconsciente e a estupraria.
Quando
ela acorda de um desmaio dentro de um cano com outros cadáveres femininos, há
muito tempo deixados ali, ela tenta fugir, mas dolorida, com frio e com medo
ela se sente perdida vagando pela estrada — receosa pelo próximo carro a
aparecer ser de seu estuprador voltando para terminar o serviço.
Tess
chega à cidade, mas com medo de contar a qualquer pessoa, aparecer na rua no estado
em que estava e alguém lhe fazer perguntas, ou até mesmo contar à polícia o que
aconteceu. Ela consegue chegar a casa, se sente aliviada por um instante, mas
continua com medo, percebe como está machucada e um sentimento de raiva começa
a desabrochar de dentro dela.
A
cada parágrafo, Tess fica com mais medo e, consequentemente, louca aos poucos.
Ela começa a criar teorias malucas para explicar o fato de que seu estuprador
estaria na próxima esquina e, dessa vez, pronto para matá-la.
A
protagonista começa a despertar interesse na arma que tem em casa e quem foi o
homem que lhe causou tudo isso (e quem sabe ir atrás dele e evitar que outras
mulheres acabem como ela e os outros cadáveres no cano), para que ela possa
“dar o troco”.
“E então começou a rir.
Às vezes é tudo o que se pode fazer.”
Neste
conto, King usa bastantes referências sobre os livros da Tess, algo que achei
que aproxima mais o leitor da vida e carreira da personagem. São histórias em
que velhinhas são detetives e desvendam mistérios.
O conto
já começa tenso, sabendo que algo vai acontecer a qualquer momento com a
autora. Vemos com detalhes o medo e tudo o que se passa pela cabeça dela depois
do que aconteceu. O medo que ela sente é tanto que em todo lugar que ela passa,
ela imagina que seu estuprador estará por lá e como ela poderá escapar — se for
possível.
A
cada momento que passa um mistério ou uma revelação deixam a história mais
envolvente ao leitor e mais apegado a Tess e sua triste história.
Extensão Justa
Dave
Streeter, um homem com câncer, faz um pacto com um desconhecido para se curar
da doença, mas entregando-a a outra pessoa.
O ano
é 2001, em Derry, Maine. O conto já inicia de maneira rápida falando de Dave
passando muito mal e vomitando enquanto dirige, alegando que isto seria causado
pelo câncer que ele tem e pela quimioterapia que ele faz.
No
meio da estrada, enquanto sai do carro para vomitar, ele encontra uma
barraquinha de vendas, que, aparentemente, não tem nada a venda. Dave fica
curioso e vai tentar descobrir o que é que está a venda. Chegando à barraca, um
homem gorducho diz que está vendendo extensões — uma forma de prolongar ou
aumentar algo que alguém tenha de pouco, no caso de Dave, a vida. Ele não
acredita muito no vendedor, mas aos poucos ele vai ganhando a confiança no
nosso protagonista, mesmo que este ache que o vendedor é um homem que conseguiu
fugir do hospício local.
No
fim, Dave fecha o acordo com um certo pagamento e um trato: ele passa sua
enfermidade a outra pessoa, uma pessoa que ele diz odiar, um velho amigo de
infância que ainda lhe traz influências em sua vida atual e que ele ainda tem
contato.
“A almas dos humanos se
tornou pobre e transparente.”
Logo
no começo, todos já sabemos que é o vendedor de extensões, mesmo que não seja
citado no conto >:). Isso foi bem interessante, pois me instigou a saber como
terminaria esse trato e suas futuras consequências.
Esse
é o conto mais curto do livro, cerca de 35 páginas, então não tenho muito o que
contar que não seja um spoiler. Surpreendam-se.
Podemos
acompanhar a vida de Dave e de seu “amigo” com o passar dos anos. Isso deixa a
história mais agoniante e tensa, eu gostei disso. Me deixou bem triste pelos
personagens também. Mas no geral a história foi ótima, muito bem produzida para
tão poucas páginas. Isso deve ser a magia do Stephen King.
Gostei
bastante dessa história porque o autor usou o local fictício de Derry, que é a
mesma cidade que acontece no livro It – A Coisa, onde um palhaço/demônio Pennywise
assombra a cidade. O autor coloca no posfácio do livro esse fato, que ele quis
ambientar esse conto na mesma cidade de seu outro livro.
Um Bom Casamento
Uma
caixa encontrada na garagem de casa pode revelar muito sobre um marido, trazer
mais revelações do que 27 anos de um bom casamento.
Este
último conto começa contando a vida de Darcy até seu casamento e o atual
momento. Ela se sente muito feliz com seu marido Bob e seus filhos. Se alguém
lhe perguntasse como estaria o casamento ela responderia: “Vai bem. Está tudo
bem”. Até agora.
Seu
marido está fora de casa a negócios, ela vai até a garagem em busca de pilhas
para o controle remoto. Tudo normal até agora, mas algo acontece: ela tropeça
em uma caixa na garagem que ela não sabia que estava lá. Esta está cheia de
revistas de catálogos antigos de Darcy. Ela começa a tirar as revistas da caixa
uma a uma e no fim encontra uma coisa que Darcy nunca imaginou que poderia
pertencer ao seu marido. Ela logo tenta deixar isso pra lá e colocar a caixa
embaixo da bancada, porém ela escuta um som oco na parede e vai investigar —
mesmo uma parte dela dizendo para se esquecer de tudo, a parte curiosa a força
a saber o que está acontecendo. Mais uma coisa que ela nunca imaginaria ser de
seu marido: um esconderijo. E nele há mais coisas que ela não podia pensar por
que ele guardaria aquilo.
Darcy
começa a investigar o que encontrou e relacionar fatos ligados àquilo. Ela fica
cada vez mais desesperada e incrivelmente atônita sobre tudo que descobre. Como
seu marido pode esconder isso dela depois de tantos anos (se as especulações
dela estiverem certas, claro).
“E existe quem conheça
outra pessoa de verdade?”
Este
conto já começa misterioso, logo nas primeiras páginas já há mistérios e
surpresas (e que surpresas!). Não vou falar muito dele também para não estragar
a experiência com o conto.
Uma
coisa eu pude ter certeza logo de cara: eu iria adorar essa história. E foi ao
passar das páginas que eu continuei tendo mais certeza disso. E, realmente: meu
conto favorito do livro.
O
livro é fantástico. Todos que gostam do gênero de suspense deveriam ler, e
mesmo os que não gostam deveriam experimentar. Até mesmo o livro em si é lindo:
a capa é preta escura e lisa com o título em preto ou pouco mais claro fosco e
as bordas das páginas são totalmente pretas. Isso reforça, e muito, a ideia de
escuridão total.
Com o
passar do livro entendemos a ideia que o titulo quer passar: em todas as
histórias os personagens se veem perdidos e sem esperança, pois quando não há
mais luz, só resta a escuridão, e com escuridão não há esperança, e sem nenhuma
estrela para guiar, o que pode ser feito?
Fica
claro que Stephen King merece esse nome, pois ele é o rei do thriller e do
horror, não há um livro dele que eu não pense “não existe outro igual”, pois
sua escrita é única.
Descobri
que dois dos quatro contos tem adaptações aos cinemas: “Gigante do Volante” e
“Um bom casamento”. Fiquei surpreso, pois o livro é recente, 2010, e já tem
dois filmes deles. Espero poder ver logo os filmes para saber se eles são tão
bons quanto os contos maravilhosos.
No fim, dei 5 estrelas, mas depois de alguns dias, eu pensei mais nos contos e no livro inteiro, então voltei no Skoob e favoritei também.
No fim, dei 5 estrelas, mas depois de alguns dias, eu pensei mais nos contos e no livro inteiro, então voltei no Skoob e favoritei também.
Muito
obrigado por ler até aqui, sei que a resenha ficou mais comprida que o
habitual, mas queria passar a experiência completa a todos. Alguém já leu ou
assistiu algo com esse tema de escuridão, em que a pessoa fica perdida sem
saber o que fazer? Gostaria de conhecer um pouco mais sobre esse tema.
—
Ricardo
- 09:00
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