Resenha: Bunker, Kevin Brooks

09:00

A resenha de hoje é uma que eu estava muito ansioso em fazer, foi um dos meus livros favoritos e logo que eu terminei, já tive vontade de reler e passar esses sentimentos para vocês.

Seis pessoas capturadas e trancafiadas em um bunker, sem contato algum com o exterior. Seis vidas, seis personalidades que poderiam jamais se cruzar, passam a coabitar o mesmo espaço. Linus, um adolescente de 16 anos; Jenny, uma menina de 9 anos; Fred, um dependente químico; Anja, uma mulher elegante e atraente de aproximadamente 30 anos; William Bird, um executivo de 38 anos e Russell Lansing, um físico de 70 anos com a saúde debilitada. Câmeras e microfones registram qualquer movimento das seis vítimas. Não há portas nem janelas. Masquem os observa? Por que eles foram os escolhidos? É através do olhar de Linus, o primeiro capturado, que adentramos esse lugar. Os registros em seu diário delineiam a perturbadora arquitetura do bunker – espaço intransponível em que a humanidade é colocada à prova, numa espécie de voyeurismo sádico, bárbaro e impiedoso.” — Sinopse oficial.



Bunker começa logo de cara jogando várias informações sobre o local em que o personagem está: 6 quartos, um banheiro, um poço de elevador, uma cozinha, uma sala de jantar com 6 cadeiras, papéis sulfite e caneta, luzes que acendem automaticamente, um relógio de parede e não há janelas nem espelhos. Há até uma ilustração feita do local logo na primeira página. Mas depois deste tapa na cara de informações o livro fica mais humano e menos descritivo.
O personagem não entende por que ou como ele está lá. No dia anterior, ele foi ajudar um homem cego e de braço quebrado a colocar malas em uma van e, quando ele percebeu, o homem o estava atacando e usando clorofórmio contra ele, então desmaiou e acordou dentro do elevador aberto para o bunker. O protagonista fica sem saber como agir nessa situação, e digamos que eu também não saberia o que fazer.
Ele passa três dias no bunker sem comer, apenas vagando de um lado para o outro — ele percebe várias câmeras e microfones espalhados por todo o local, até no banheiro — e, enquanto explora, encontra um caderno e uma caneta e começa a escrever um diário — o que estamos lendo. Tudo normal (normal no nível que ser sequestrado e trancado no bunker pode ser considerado normal) até que uma garotinha aparece no elevador no mesmo horário que este desce todos os dias. Ela acorda e ele a trás para dentro e cuida dela.
Ela, Jenny, começa a contar a ele o que aconteceu com ela para estar ali. Eles conversam e trocam perguntas um para o outro, e então descobrimos o nome do nosso protagonista; Linus (pronuncia-se Lai-nus, como ele diz no livro). Depois de algumas páginas percebemos como essa garotinha é esperta e corajosa.
Ela tem a brilhante ideia de pegar um dos papéis e caneta e escrever alguns pedidos — comida, bebidas, utensílios de higiene, além de algumas perguntas — e colocam esse papel no elevador. No dia seguinte, tudo o que eles pediram apareceu no elevador, menos as respostas das perguntas que eles fizeram (isso me lembrou de um pouco de Maze Runner, quando eles pedem tudo o que precisam pela Caixa e depois de alguns dias quase tudo o que pedem aparecem na Caixa).
Novamente eles estão começando uma rotina, quando o elevador sobe — não em seu horário habitual — e volta com dois adultos, uma inconsciente e outro amarrado e amordaçado. A mulher se chama Anja (pronuncia-se Ânia, ô povo com nome estranho!) uma mulher de uns 30 anos e arrogante, o homem se chama Fred, ele é um viciado, bem grosso e um pouco mal humorado pela abstinência de heroína, mas depois ele se revela super gente boa. Depois de alguns dias, um homem gordo e dormindo de terno com cerca de 40 anos fedendo a bebida. Seu nome é William Bird e ele é um empresário. Se revela chato, gosta de discutir e fica muito tempo conversando com Anja sozinhos. Não vou contar a história de cada um ou como era a vida de nosso Linus, acho muito interessante essa experiência de descobrir por si mesmo.

“Fatos são coisas ótimas, mas não tem valor nenhum se você não souber o que fazer com eles.”

O grupo começa a criar uma rotina diferente com tarefas para cada um e reuniões diárias, debatendo técnicas de fuga entre si, de modo a não falarem alto para os microfones e sempre escrevendo, escondendo das câmeras. Isso até que o sexto e último personagem chega: Russel, um homem de 70 anos, negro, gay, caolho, físico e filósofo, escritor teórico famoso que Linus já leu um de seus livros. Logo, Linus e Russel demonstram uma forte amizade e Linus revela a ele sua vida, que não havia nos revelado muito, mas Russel conseguiu conquistar a sua confiança.
Então a vida no bunker segue “normalmente” por algum tempo, até que coisas que eles não pedem descem pelo elevador, o homem que os sequestrou começa a “jogar” com eles, brincar com seus vícios e fraquezas, deixando eles transtornados e separando-os, jogando um contra o outro. Eles tentam provocar o homem de volta, mas Ele os pune logo depois. A partir daí a história é com vocês...

“‘Algumas pessoas simplesmente são assim, eu acho. Elas gostam de ser más.’ ‘Por quê?’ ‘Eu não sei.’”

Comecei logo adorando o livro, devorei em poucos dias. Foi um suspense muito bom e o mistério me prendeu do começo ao fim.
Decidi que esse seria o próximo livro que eu leria porque já estava muito desgastado de livros tão grandes e grossos com letras pequenas. Já esse é curtinho e as dimensões são pequenas, então foi uma leitura rápida e gostosa para me distrair dos gigantes. Já o amei pelo fato de que os capítulos (separados pelos dias dentro do bunker) são curtos. AMO livros com capítulos curtos.
Achei interessante como o autor não detalha como os personagens são (exceto Anja e Russel que ele dá um pouco mais de detalhes físicos), não sei por que ele fez isso, mas achei a técnica intrigante, assim não nos apegamos a beleza ou não dos personagens e sim a sua personalidade — e funciona bem.
O protagonista dialoga diretamente com o leitor em alguns pontos, já que ele escreve um diário. Ele se pergunta várias vezes — e pergunta ao leitor também — com quem ele está falando, o que está acontecendo quando alguém (ou se alguém) vai ler isso e coisas do tipo.
Linus vai fazendo reflexões em seu diário ao longo dos dias e vai pensando e compartilhando conosco. Acho legal que, mesmo com toda essa situação, ele não para de pensar e não para de se questionar em quem vai ler tudo isso que ele escreve; então isso reforça bem a ideia de diálogo com o leitor.
O livro merece o nome que tem: “diário da agonia”, pois você não só vê o que os personagens estão passando, o Kevin Brooks conseguiu me fazer sentir dentro do bunker passando por tudo que eles passavam também. Há algumas cenas um pouco pesadas ou tensas de mais, que te faz agonia ao ler e imaginar, mas sei que todas são extremamente necessárias para o livro passar esse efeito que eu senti.

“O medo tem uma finalidade. Não é só para assistir filmes de terror ou andar de montanha-russa. Ele está ali por um motivo. Ele nos mantém vivos.”

Bunker trabalha muito com o emocional e o psicológico dos personagens, em como eles sobrevivem confinados e sem saber o que fazer, sem saber o que os esperam e até que ponto cada um começa a surtar, mas ele mexe principalmente com o psicológico do leitor.
Esta obra me lembrou de Misery, do Stephen King, também, pois nele um homem é “sequestrado” e “trancafiado” e a sequestradora fica fazendo jogos mentais com o personagem, brincando com vícios e fraquezas deixando-o maluco.
Se estiver esperando um livro convencional, que te dê todas as respostas concretas, não espere isto deste livro, mesmo assim ele é incrível pelo o que ele te faz sentir. Mergulhe de cabeça nele que não irá se arrepender.
Bunker foi tão bom, me fez ter um sentimento que há muito eu não sentia, consegui me apegar à dor dos personagens, pude me sentir como se eu estivesse ao lado de cada um em seu pior momento trancado no bunker. Fazia tempo que eu não me emocionava a ponto de chorar por um livro, mas quando terminei esse, eu o fechei e fiquei em posição fetal chorando na cama. Não sei por que eu não o li antes. Um dos melhores livros que eu já, está na lista dos melhores do ano e este mal começou. Com certeza cinco estrelas e favorito, recomendadíssimo.
Desculpe se falei mais do que devia ou falei pouco de mais, mas me empolguei muito com a resenha, gostei tanto do livro que me atropelei na hora de descrever alguns fatos.
Realmente, como seria viver num bunker sem saber como chegou ou como sair? Isso deve mexer tanto com psicológico...


— Ricardo

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4 comentários

  1. Oi, Ricardo! Nossa, finalmente alguém me entende! Na minha resenha de Bunker eu mencionei isso de que o livro não tem conclusões, que as pontas ficam abertas. Mas não sei se foi a foma que eu escrevi, nego começou a comentar esse detalhe como se eu não tivesse curtido o livro. Só que eu adorei! Só mencionei isso porque eu sei que tem vários leitores por aí que ficam incomodados com pontas soltas (o que não é o meu caso hahaha)

    Beijos!
    Um Metro e Meio de Livros

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    Respostas
    1. Oi! Hahahaha eu entendo, acho meio chato quando termina com pontas soltas, mas esse foi uma exceção, adorei todos os pontos do livro.

      Abraços!

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  2. Não acho que o livro tenha pontas soltas já que o que acontece com o "autor" do diário fica bastante claro já que o próprio diário se interrompe. Este livro me lembrou do conto "Sobrevivente" de Stephen King.

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    1. Sim, isso é verdade, mas sempre fica aquela curiosidade do porquê eles estão lá e tudo o mais. Eu tenho bastante vontade de ler esse conto do Stephen King.

      Abraços

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