Resenha: Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley
09:00
A
resenha de hoje será de um livro diferente, Admirável Mundo Novo, um livro
clássico, gênero que não estou tão acostumado a ler — muito menos fazer uma
resenha.
“Ano 634 df (depois de Ford). O Estado
científico totalitário zela por todos. Nascidos de proveta, os seres humanos
(precondicionados) têm comportamentos (preestabelecidos) e ocupam lugares
(predeterminados) na sociedade: os alfas no topo da pirâmide, os ípsilons na base.
A droga soma é universalmente distribuída em doses convenientes para os
usuários. Família, monogamia, privacidade e pensamento criativo constituem
crime.” — Sinopse oficial.
O
mundo que conhecemos não é mais o mesmo. Em uma excursão, um Diretor de Incubação
e Condicionamento explica a estudantes como funciona e fecundação. Mas não é a
que estamos acostumados a estudar nas escolas, no ano de 632 d.F. (depois de
Ford) a fecundação é feita em laboratório, todos são criados assim.
A
Sociedade em que vivem é dividida em classes: Alfas, Betas, Gamas, Deltas e
Ípsilons, sendo os três últimos da classe operária que trabalha em fábricas, a
base da sociedade.
Logo
já é descrito como a Sociedade é: nascer em laboratório com um objetivo,
trabalhar em máquinas, linhas de produção, ou se for uma classe mais alta,
empresários. Então estes embriões de classes trabalhadoras são clonados muitas
e muitas vezes gerando operários idênticos, assim apenas um embrião pode encher
uma fábrica de funcionários.
Cada
classe e cada tipo de operário recebe um tratamento especial na sua fecundação,
assim, eles podem se sentir melhor e mais adaptado em seu ambiente de trabalho,
no qual ficarão para sempre. Crianças de castas baixas são ensinadas a ficarem
longe de livros e plantas — desprovidas de qualquer fonte de conhecimento.
Crianças de castas superiores ensinadas a ficarem longe das inferiores. Tudo
que deve ser utilizado durante a vida inteira, se “aprende” quando bebê ou
criança, com milhares de repetições que os fazem ficarem alienados com o que
ouvem, levando isso para o resto da vida — como se comportar, como, o que e
quando comprar, o que fazer na vida e etc.
“Sessenta e duas mil repetições fazem a verdade.”
Os
primeiros capítulos são apenas amostras de como o mundo é no futuro comparando
com o passado e como tudo é diferente. A monogamia é mal vista, tudo o que é
duradouro é visto como algo ruim, as pessoas são condicionadas a viverem na
promiscuidade na Sociedade, e sempre buscam estabilidade da Comunidade. Não há
amor, pois o amor é duradouro, não há pais e mães (considerados um insulto
gravíssimo) e nada do tipo, não há conceito de família.
O
enredo principal do livro é dos personagens Bernard e Lenina, ambos são pessoas
normais, porém Bernard tem pensamentos diferentes dos outros da Sociedade, ele
repulsa a promiscuidade, ele pensa e questiona sobre muitas coisas e sobre os
valores — o que não é muito bom para a Comunidade (já não estamos em um lugar
assim? Onde vivemos sempre obrigados a pensar de uma maneira, e quem tem uma
opinião diferente não é bem visto). Ele resolve chamar Lenina para ir a uma
Reserva Selvagem nos EUA juntos, como em um passeio de férias — onde a vida é
quase como conhecemos atualmente, com pessoas que tem emoções, famílias,
crianças nascendo em vez de produzidas em laboratório, há animais e tradições
antigas. Lenina se vê horrorizada com a natureza, pessoas idosas, mães
amamentando, sujeira (já que tudo na “civilização” é extremamente
esterilizado), religião... Mas, algo que eles encontram lá os deixa de queixo
caído.
“Ser banido significa ir pra longe, muito longe. Pra um lugar onde
as pessoas foram conscientes demais...”
Sempre
é citado como cada coisa é de enorme utilidade para a Sociedade e para a
Comunidade. Sempre no coletivo, não há o pensamento de individual, apenas o
grupo, uma empresa ou a própria Sociedade. As coisas que existem só existem se
geram lucro a algum lugar, tudo que é de graça ou de fácil criação é abolida.
É
claro a necessidade do consumo, tudo é pensado e gerado com a base do
consumismo, vangloriando o esforço no trabalho e tratando Ford como deus. Fica
óbvio como o capitalismo opressor e o comunismo exagerado fazem parte da vida
de todos, desde Ípsilons a Alfas. Mas Aldous não precisou esperar quase 7
séculos para chegar a esse resultado, se olharmos a nossa volta com mais
atenção... percebemos que “já se passaram mais de 600 anos”.
O
livro é um pouco difícil de entender no começo, pois eu não estou acostumado a
esse tipo de linguagem, mas nada que umas 70 páginas depois não me ajude. Mas
sempre tive que usar o Google várias vezes para procurar uma palavra técnica de
mais ou coisa do tipo, isso dificultou a leitura de ser fluida. Algumas falas
não tem travessão, apenas começa em um parágrafo normal, isso dificulta um
pouco quem está dizendo o que. E às vezes a história muda de ponto de vista do
nada e você acaba tendo que adivinhar o local, os personagens, ou se nada
mudou.
“É preferível o sacrifício de um à corrupção de muitos.”
Todas
as pessoas devem fazer o que foram ensinadas a fazer, mesmo que não queiram ou
que seja contra a vontade, elas tem que fazer o que foram condicionadas a
fazer, e não o que pensam, apenas para o “bem da Comunidade”. Elas são
condicionadas a não ter emoções, pois “quando o indivíduo sente, a Comunidade
treme”.
Neste
mundo há uma droga, o soma, ela é
muito utilizada sem nenhum receio por todos quando estão cansados, tristes, com
sentimentos “anormais” na Sociedade ou pensando de mais, assim o governo
consegue controlar as pessoas, pois sempre elas estarão fugindo da realidade em
vez de pensar e confrontar.
Em
contrapartida a linguagem antiga, a história é bem atual, poderia ter sido
escrita por algum autor ou autora moderno que não ia ter diferença na história,
pois ela é bem atual.
Com o
fim do livro, foram deixadas algumas questões em aberto que o autor poderia
trabalhar, pois fiquei tão curioso com o que aconteci a alguns personagens...
No
início do livro há um prefácio que o autor escreveu cerca de 15 anos depois do
livro em si. Eu li em uma resenha na internet que eu deveria lê-lo depois de
terminar a história, como um posfácio, e, realmente, há spoilers sobre muita
coisa do livro, coisas importantes que acontecem aos personagens e o que o
Aldous mudaria. Então pulem o prefácio e apenas o leiam no final.
“E se este mundo for o inferno de outro planeta?”
Um
ponto que gostei bastante ao ler, foi que eu pude perceber como alguém
imaginava o mundo daqui a 600 anos (isso há 8 décadas) e ver como não seria
preciso tantos séculos para chegar ao resultado; em um século, muito do que ele
previa, já se aplica a nossa época em escala menores. Isso eu admirei muito no
autor e em sua habilidade.
Em
resumo, gostei bastante do clássico, mas preferi muito mais o começo que é
quando há a maior parte das explicações do que do resto do livro, onde fica um
drama que não me prendeu tanto assim. Não era nada que eu imaginava ser, isso
foi um ponto positivo, pois me surpreendeu, mas não atendeu as minhas
expectativas, por isso dou 4 estrelas, mas peço que todos que gostem do gênero
clássico, distopia ou utopia deem uma chance a esta obra para tirar suas
próprias conclusões.
—
Ricardo
6 comentários
Olá :D
ResponderExcluirNão li esse livro mas tenho muita vontade!
Estou seguindo vocês <3
Bj
@saymybook
saymybook.blogspot.com
Oi! Ah, é bem legal, pois é uma nova experiência que não tinha contato antes.
ExcluirObrigado!
Abraços!
É umas das minhas metas de leitura do ano. Creio que pode ser bom pra que eu crie uma visão real da sociedade em que estou inserida e tente não ser manipulada.
ResponderExcluirBelo blog, desejo prosperidade ao casal!
Oi! Muito obrigado! Agradecemos os desejos! SIIIMM! Isso foi o que tornou o livro especial, para mim, pois você pensa como a mídia e tudo a nossa volta nos controla e nos aliena. Mesmo sem querer você fica pensando nas situações do livro por dias e dias depois de terminar o livro.
ExcluirAbraços!
Tenho muita vontade de ler as distopias clássicas, mas não sei por onde começar! Quem sabe por esse?
ResponderExcluirÓtima resenha ;)
Eu também tinha muita vontade, essa foi uma ótima escolha, para mim. Que venham mais!
ExcluirObrigado!
Abraços
Olá! Por favor deixe um comentário que iremos adorar conversar.